QUADROS BORDERLINE E A QUESTÃO DOS LIMITES

Uma das questões mais difíceis para a pessoa do espectro borderline de diferentes tipos e níveis de comprometimento, é lidar com situações que mobilizam frustração e ansiedade, que acabam por acentuar a instabilidade emocional e a perda do controle dos impulsos, com tendência a comportamentos hostis, agressivos, quando não violentos consigo mesma e/ou com os outros.

A baixa autoestima e um conceito difuso de si mesma, as dúvidas sobre quem se é, o que se quer, quais seus potenciais e limitações, como fazer para ser aceita e não abandonada, perseguida, rejeitada, causam muita intensa angústia  e acentuam o sentimento de vazio, confusão e consequentemente depressão e  agressividade.

Quanto mais desestruturada a situação, mais desconcertantes são as vivências da pessoa com esse transtorno. Quanto mais almeja o “não ao não”, “a liberdade sem regras”, “só responder aos seus desejos”, mais se afunda em seus impulsos autodestrutivos e destrutivos. Em decorrência disso, torna-se mais difícil avaliar realisticamente o mundo que a cerca, podendo eclodir um surto psicótico.

Por outro lado, em situações mais estruturadas, com regras e limites colocados de modo claro e firme, mais fácil fica lidar com as situações, encontrar o esboço que seja de um parâmetro que sirva para clarear o caminho. Pense, se você estivesse em um carro desgovernado, sem freio, o que gostaria de encontrar pela frente – o nada, o precipício, o muro, o lago ou algo que o parasse sem destruí-lo, que pudesse amortecer o impacto ?

No meu trabalho com pessoas com traços ou transtorno de personalidade borderline, tenho percebido que quando os limites são colocados de forma firme, coerente e respeitosa, sem agressividade (como, por exemplo, o contrato de trabalho), voltando-se a ele sempre que necessário (e são muitas vezes), vai-se abrindo caminho para a possibilidade do início de um processo de pensamento, um protagonismo da própria história, ajudando a ir aos poucos delineando quem se é e o que se quer.

Nesse processo, que envolve aspectos transferenciais e contratransferenciais, vai se construindo outra forma de se relacionar, com suas dificuldades e novas possibilidades. O limite ajuda a lidar com o sentimento de perda, com a discriminação do eu/não eu, do fantasiado, do que foi de fato dito e o que foi presumido e não dito por confusão, medo. Cabe ao terapeuta buscar com a pessoa um sentido, poder suportar os avanços e os recuos. Reconhecer as nuances desse percurso realizado pela dupla possibilitará a adesão ao tratamento e um questionamento de seus porquês.

 

 


 

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