A questão dos limites

A questão dos limites – colocar e aceitar – é uma questão complexa que em geral se apresenta como um entrave no relacionamento intrapessoal, interpessoais e na vida social. Palavras como “lei”, “norma” e “limite”, acabam despertando ideias relacionadas à coerção, autoritarismo, submissão, podendo ocasionar mal-estar e vontade de contrariar, além de gerar muitas dúvidas em relação ao outro e a si mesmo.

Considero importante pensar nos significados dessas palavras. Para que serve uma norma, uma lei? Como sabemos de que modo nos portarmos em uma cultura diferente, em um ambiente desconhecido, se não tivermos conhecimento de suas regras, de sua ética? O que pode o que não pode ser aceito? O que é ou não aceitável para mim? Até que ponto ceder ou não?

A norma, em seu sentido positivo, tenta colocar alguma ordem no caos, balizando as instabilidades politicas, sociais, pessoais, as vaidades e atrocidades, propiciando um eixo norteador, critérios, podendo ser vista como um fator protetor que evitaria um movimento desordenado, como se estivéssemos em uma horda primitiva, em uma terra sem lei.

Os grupos humanos se organizam, se reconhecem, se identificam por suas regras, normas e leis, o que possibilita sentimentos de inclusão ou exclusão. Existem normas coerentes, humanas, mas também atrozes, desumanas, injustas, passando por quem as interpreta e aplica movido pelo poder, arrogância, violência, dificuldades emocionais, desordens mentais.

A formação de uma família se compõe de histórias pessoais que se refletem em suas escolhas, regras de convivência, sua ética, seus objetivos, sua forma de expressar afetos e poder. A questão da vivência das regras passa pela introjeção das figuras parentais, simbolizada pela representação do pai. Quando essa figura for internalizada como justa, protetora e amorosa, as regras e os limites poderão ser vivenciados como elementos norteadores, protetores imbuídos de instinto de vida. Quando essa figura for internalizada como ameaçadora, punitiva, agressiva e cruel, as regras remeterão à raiva, injustiça, persecutoriedade, insegurança.

A forma como cada um internalizou as figuras parentais se expressará em seus relacionamentos, trazendo uma maior ou menor dificuldade em lidar com as frustrações e com as figuras ou situações que representem autoridade e poder. O que delimita protege, mas também frustra, podendo mobilizar sentimentos diversos tanto de valência positiva quanto negativa. Tendemos a nos esquecer de que a moeda tem dois lados, que o NÃO faz parte do SIM. Quando digo sim para algo, também digo não para outra, implica em escolhas, em principio de realidade.

Nesse sentido, é fácil confundir regras gerais em determinados contextos, com tratamento pessoal, com perseguição ou protecionismo, principalmente em situações novas ou carregadas de intensa emoção, onde, por vezes, a capacidade de avaliar realisticamente as situações fica prejudicada.

Tudo isso se torna mais denso quando se trata de dizer não a um parceiro íntimo, um filho, uma figura parental, um chefe, um amigo – quando tememos que esse “Não a isso, nesse momento seja interpretado como “Não a você”, “Não gosto mais de você” e que inicie um processo de separação, rejeição, abandono, o que pode nos tomar presa fácil, pela baixa autoestima, das relações tóxicas, abusivas, dependentes e cruéis.

O primeiro limite que se estabelece é consigo mesmo, quando se tem claro quem se é, o que se quer, o que se permite, do que se gosta e necessita. Esse limite é construído nas relações ao longo da vida e pode ser um guia de nossas escolhas. Limite não implica em rigidez, mas em autoconhecimento e respeito.

Uma pessoa que coloca de forma natural os limites, o sim, o não, também consegue aceitar o limite do outro, conversar sobre as divergências e construir outros padrões de relações mais satisfatórios.

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