OS SINTOMAS E SEUS SEGREDOS – algumas considerações

O que é um sintoma? Qual sua função? Quais segredos encerram?

Por que algumas pessoas se aferram tanto aos diagnósticos e/ou sintomas, se identificam com eles e se reconhecem a partir dos mesmos, como se fossem uma persona? Que segredos e perigos acolhem e alimentam?

Que temor desperta o ficar face a face com o que não se quer ou se pode ver, o que implicaria em entrar em contato com uma dor psíquica ainda inominável, que precisa da proteção do sintoma para se expressar e ser suportada.

Desvendar o sintoma é um caminho desconhecido e tortuoso pelos labirintos do inconsciente, das emoções primitivas, que precisa ser percorrido com sensibilidade, cuidado, respeito e confiança, caminho que é perpassado pela relação transferencial e contra transferencial em um processo a ser construído no decorrer dos atendimentos.

De uma forma geral podemos dizer que o sintoma aparece quando as palavras desaparecem ou não são atingidas. O sintoma é uma expressão não verbal, sintética e sincrética de dores, emoções, experiências pouco discriminadas. Muitas vezes assume a forma de uma dor física muito resistente ou uma dificuldade emocional mais ou menos incapacitante ou deformante para o desenvolvimento do individuo.

Em psicossomática utiliza-se a expressão “agenda oculta”, para fazer referencia àquilo que o paciente não consegue ou não quer falar a respeito de sua doença, sua origem ou crises, que poderia ser expresso por meio de metáforas como “carregar o peso do mundo nas costas”, “sufoco que impede de respirar”, “soco no estômago”, “nó na garganta ou no peito” e assim por diante, mas que revelam uma dor psíquica que naquele momento só consegue se legitimar pelo físico. Daí a busca por tantos médicos e remédios e a certeza de ser incurável, o que pode trazer certo prazer ao apontar a impotência do outro (médico, medicamento…).

É incurável no âmbito psicossomático aquilo que não encontra uma expressão mais adequada que implicaria passar pelos subterrâneos do temido e rico inconsciente. O que não pode ser revelado e precisa perpetuar o castigo, a culpa, o medo.

Os sintomas denunciam um enfraquecimento do ego que reduz a eficácia adaptativa, mas protege do0 temido segredo recalcado, do inominável (isto é, aquilo que está em uma forma mais primitiva do desenvolvimento emocional, mas altamente atuante, em uma esfera não verbal que não pode ainda ser representável pela palavra.)

A investigação das queixas e a história clinica possibilitam um primeiro adentramento nesse emaranhado – questões relacionadas ao inicio da enfermidade – primeiras lembranças desse tipo de manifestação, as circunstâncias que a cercavam (o que estava acontecendo na vida e no contexto social e familiar da pessoa?).

Explicações dadas aos sintomas ou dificuldades, associações, metáforas utilizadas  (se as utilizar), descrição do que sente ou pensa, ou como os outros se referem, reagem a suas dificuldades? Por que procurar ajuda nesse momento especifico? Ajudas buscadas anteriormente – descrição das tentativas e os profissionais procurados. Tipos de ajuda buscada (medicina, psicologia, psicanalise, religião, cartomantes, etc.).  Qual o nível de adesão aos tratamentos e medicamentos? Que tipo de resolução busca para suas queixas e o quanto pretende investir emocionalmente? Como se imagina resolvendo esses sintomas ou dificuldades?

Não se pode esquecer que todo sintoma encerra ganhos primários (economia psíquica) e ganhos secundários (a história que o individuo se conta e com a qual atua no ambiente, com seus benefícios e malefícios).

A primeira abordagem da queixa ou queixas na entrevista inicial abre um acesso ao inconsciente por meio das associações livres embutidas nas respostas e crenças, que devem ser exploradas no limite do suportável ao longo dos atendimentos. A grande questão é transformar as queixas (que por vezes parecem externas ao individuo) em questões a serem exploradas como parte do indivíduo em um processo psicoterápico.

Essa é uma das funções primordiais de uma psicoterapia de abordagem psicodinâmica.

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