A ADOLESCÊNCIA E SUAS VICISSITUDES

A adolescência é um período conturbado, turbulento que em geral ocorre entre os 13 anos e 19 anos, implicando em muitas descobertas, erros, acertos, experimentações tanto para o adolescente quanto para os pais e a família nuclear.

Todos precisam lidar com os paradoxos, mudanças, instabilidades e passarem por seus lutos e temores, o que leva a mudanças e crises nas relações familiares e nos papéis até então assumidos.

Com tantas mudanças internas e externas os pais também precisam lidar com suas expectativas narcísicas em relação aos filhos, tentando discernir (o que nem sempre é fácil), o que é uma crise própria da idade e o que é uma manifestação psicopatológica se instalando. Nesse processo talvez precisem da ajuda de um profissional.

O que muitas vezes percebo é a dificuldade dos pais permanecerem no papel de pais, colocando limites coerentes e podendo conversar com o (a) filho (a) sobre as dificuldades apresentadas e aguentar a raiva, a agressividade que o limite desencadeia em maior ou menor grau.

Na tentativa de aproximação do adolescente muitas vezes os pais também se tornam teens, amigões, deixando o filho (a) sem parâmetros, sem ter como contar com um adulto que lhe ajude a percorrer esse caminho e a conter sua raiva, a desilusão, as duvidas. Nessa fase os pais podem apresentar um rebaixamento da autoestima, um temor de abandono e afastamento por parte do filho, reações depressivas e ansiosas, necessitando  elaborar o luto pelo filho da infância e seus próprios temores em relação à adolescência, revivendo seus próprios conflitos.

Os pontos nevrálgicos da relação pais/filhos em geral estão associados a questão de limites, intimidade, invasão de privacidade, idade e tipo de assistência necessária para o adolescente, questões essas que se tornam confusas para os pais.

Cabe aos pais exercer um controle de idas e vindas, horários, companhias, locais frequentados, autonomia, tempo dispendido com redes sociais, grupos de internet, conteúdos e grupos acessados e concomitantemente observar mudanças de comportamento e de humor em seu filho, tentando associar a novas situações, amizades, etc. Para o adolescente os parâmetros encontram-se em construção, são ambivalentes e por vezes distorcidos. Os pais precisam aprender a ouvir para que possam ir conhecendo os rumos de seus filhos. Dar bronca, proibir é fácil, o difícil é ouvir aquilo que desmantela seus sonhos.

Graña (2004) refere que alguns aspectos devem ser observados no desenvolvimento do adolescente pela possibilidade de trazerem em seu bojo indícios de  manifestações psicopatológicas se instalando. Descreve três tipos de formatos que podem ser adotados: “ruidoso”, “silencioso” e o “invisível”, todos se manifestando de formas estranhas, até por vezes bizarras afetando diversas áreas da vida.

As manifestações consideradas ruidosas em geral se expressam por perturbações de conduta, oposição às regras e figuras de autoridade. Podem assumir a forma de drogadicção, alcoolismo, atitudes destrutivas como roubos, assaltos, extorsões, brigas, associação a gangues, prostituição, dificuldades com a lei, direção imprudente, podendo causar a própria morte e a de outros. Casos de parricídio, matricídio, filicídio cometidos por adolescentes delinquentes, borderline, psicóticos e/ou influenciáveis por terceiros seja de forma presencial ou virtual.

As manifestações silenciosas podem ser encontradas em adolescentes retraídos, mais isolados dos contatos sociais, que preferem seus quartos parecendo alheio ao que acontece no seio familiar e no ambiente escolar, podendo facilmente ser vitima de bullying por parecer estranho, destoante ao grupo. Clinicamente pode predominar sintomas depressivos (ideias de desvalorização de si, exclusão, rejeição, sentir-se diferente dos demais de forma negativa) ou um recolhimento introversivo beirando a esquizoidia (dificuldade em comunicar verbalmente seus sentimentos podendo desconfiar das intenções das pessoas).

O adolescente invisível não apresenta maiores turbulências ou níveis de isolamento, são os “exemplares”, responsáveis, bom comportamento, boas notas, ingresso precoce no mercado de trabalho, sempre atendendo as expectativas dos outros em busca de reconhecimento. Parece haver um abortamento da adolescência, um pseudomaturidade, um falso-self. Tendem a apresentar perturbações psicossomáticas, hipocondríacas, tendência a compulsividade, tedio e abulia, sendo dificilmente encaminhados para tratamento.

Essa explanação objetiva estimular reflexões sobre tão complexa fase do desenvolvimento e ressaltar alguns indícios de dificuldades que necessitariam ser melhor avaliadas e discutidas com profissionais da saúde mental, de forma preventiva ou terapêutica.

 

Graña, R.B. A psicopatologia da adolescência e o espectro borderline. In Graña,R.B.,Piva,A.B.S. (org.) A atualidade da psicanálise de adolescentes: formas do mal-estar na juventude contemporânea. São Paulo : Casa do Psicólogo, 2004, p.153-64.

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