Os tênues limites diagnósticos na adolescência

A questão do diagnóstico na adolescência é complexa, variável, multifatorial. O adolescente ainda está em desenvolvimento, fazendo parte dessa trajetória o processo de estabelecimento da identidade, as oposições, as inclusões em grupos diversos, a transgressão. O difícil é saber quando essa transgressão, essa desadaptação, tristeza, confusão são indicativas de um quadro psicopatológico se instalando, ou até mesmo a manifestação de um transtorno de conduta.

A adolescência é um processo de desenvolvimento no qual as questões e duvidas são muitas e as certezas são poucas – a evolução desse processo dependerá tanto dos antecedentes históricos (pré-morbidos) quanto das dificuldades ambientais e familiares encontradas – o que torna difícil se pensar em um prognóstico.

Winnicott, em sua vasta obra, compara certos elementos do processo adolescente com aspectos encontrados no paciente psicótico, no delinquente, no depressivo….

Ao longo do processo de desenvolvimento, tanto crianças quanto adolescentes – podem apresentar comportamentos ditos “antissociais” ou “psicopáticos” ou “psicóticos”, sendo frequentes os movimentos de progressão e regressão da libido, os constantes períodos de desestruturação e reorganização da personalidade.

A revivência do conflito separação/individuação relaciona-se à forma como as figuras parentais foram introjetadas e a elaboração dos conflitos infantis que emergem nessa época na forma de lutos, sendo importante acompanhar a forma como o adolescente passa e elabora seus grandes lutos, que mobilizam angustia, agressividade, instabilidade, tristeza, medo, ambivalência, sentimento de confusão e o torna propenso ao acting-out.

Nesse processo aspectos das posições esquizo-paranóide e depressiva são reativados, mobilizando mecanismos defensivos maníacos (negação, onipotência), obsessivos, intelectualização e outros mecanismos que por vezes assumem características semelhantes aos estados psicopatológicos.

A diferenciação entre o normal e o patológico é tênue, difícil e encontra-se relacionada com a forma como esses lutos são elaborados (normal ou patológica) – devendo-se considerar a intensidade, a consistência, as repetições, a duração, o contexto, as consequências do ato.

  • como demarcar esse continuum… como saber se esses lutos estão sendo vivenciados em prol do estabelecimento de um sentimento de identidade ou estão levando a uma difusão, a uma fragmentação da personalidade ? A formação de uma estruturação psicótica?
  • essas formas de expressão dos conflitos caracteriza uma fase ou crise normal do período ou um processo psicopatológico se instalando?
  • será essa uma forma de funcionamento ao longo da vida?
  • e essa impulsividade? essa agressividade? esse conflito de gerações? Em que ponto desse continuum normal/patológico se localizam?
  • como diferenciar uma conduta (experiência vivida que é fluida, transitória) de uma conduta (sintoma – formação de compromisso, que é rígida, repetitiva, permanente, tipificada)?

Normal X Patológico

  • o comportamento não ocorrer na maioria dos contextos (familiar, social, escolar, com a turma…) x todos os contextos
  • ser esporádico, pontual x sempre trazer dificuldades, a ponto de ser rotulado (inclusive por seus pares) como: intratável, difícil, estranho, extravagante, aloprado, impossível, problemático…
  • a flexibilidade x rigidez das condutas e a maneira como afetam o desenvolvimento global da personalidade
  • riscos evolutivos posteriores
  • risco de morte – própria e de outros

Em que medida a conduta do adolescente se apresenta como uma ruptura em relação ao seu passado?

Seria uma ruptura ou a continuidade de uma forma de se colocar no mundo… com outros recursos, mas com o mesmo fim?

Existe alguma relação entre as dificuldades apresentadas na adolescência e as apresentas desde a primeira infância? São dificuldades ou sintomas?

Quando as dificuldades ou sintomas ocorrem desde a infância podemos pensar em uma ESTRUTURA, em uma organização mais fixada.

Quais os aspectos patológicos dessa personalidade? (o que é rígido, repetitivo, que sempre tem “uma justificativa, desculpa”)
Quais aspectos dessa personalidade se encontram preservados?

Os mecanismos de defesa utilizados levam a um processo de adaptação ou acentuam a desadaptação da realidade?

Essa avaliação implica em tempo….

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