O pai que cria seu filho só

Na contemporaneidade, com em outras épocas, o homem se depara com a tarefa de criar seu(s) filho(s) só, em decorrência de diversas circunstâncias como morte, abandono, separação, ou até mesmo por uma opção.

Ao longo da história o papel e a função de pai foi passando por modificações, com a complexidade da vida, os ensinamentos da psicanálise, a evolução das sociedades, a compreensão de que a afetividade faz parte da natureza humana, sendo tão necessário quanto o ar que respiramos.

Aquele pai austero, que somente se dirigia aos filhos com o olhar, que delegava tudo para a mulher, que necessitava ser temido e respeitado, tomara que já tenha caído em desuso ou esteja caindo. Atualmente com toda a revolução sexual e social, o homem tem a possibilidade de defrontar-se com seu afeto, sua emoção, tendo espaço para vivenciá-los na relação com seus filhos, sem necessitar delegar essa fatia imprescindível da vida a uma figura feminina por temor de colocar em duvida a sua masculinidade. E espera-se dele que seja um pai provedor, participante e afetivo.

Para alguns homens o ver-se sozinho frente a frente com a criação dos filhos implica em quebrar paradigmas e por vezes aprender rapidamente, do dia para a noite, tarefas e papéis antes atribuídos a uma figura feminina. Tarefa difícil, mas nunca impossível desde que haja a capacidade de amar e de ressignificar.

Um homem “ocupado com o cuidar” que busca conciliar seu papel profissional com as necessidades afetivas de uma criança – precisa colocar limites e ser tolerante, afetivo. Felizmente nas ultimas duas décadas os homens tem cada vez mais desenvolvendo essa capacidade “de cuidar”, “de se ocupar além do material”, de participar da vida dos filhos e de ser continente (capacidade de abarcar, conter, nomear sentimentos, expectativas, desejos), sem se descuidar de sua educaçao.

Cuidar de uma criança implica em preocupar-se com rotinas mínimas, como horários de levantar, deitar, alimentação, escola, esportes, companhias da criança, empregada, sentimentos da criança, saúde, desejos, tempo para brincar. Quando possível a preparação operacional sempre acaba envolvendo alterações nos horários e locais de trabalho. Quanto ao lazer – não esquecer que a noitada implica em tempo para dormir no dia seguinte – e a criança não entende isso, o que implica em alterações na “solteirice”.

Mesmo com todas essas alterações, não se deve esquecer que existe ou existiu uma mãe, uma família materna, que precisa ter espaço na psique e na vida da criança, para ser amada, pranteada, odiada, cobrada, perdoada, reencontrada… A representação dessa mãe ausente sempre existirá e determinará as escolhas amorosas dessa criança, sua possibilidade de vivenciar seus afetos de forma mais ou menos integrada. A criança precisa da abertura para voltar ao assunto sempre que necessitar, de saber a verdade, sempre se respeitando sua idade e nível de compreensão. A dor precisa ser expressa, isso não significa que não se ame o pai, mas que até por toda essa aproximação, afeto e importância, assuntos tão crucias podem ser conversados sem prejudicar tão delicada relação pai/filho.

Existem ex-companheiras, ex-esposas, mas nunca ex-pai, ex-mãe. Por melhor que se crie o filho sozinho ou sozinha, figura do outro nunca deixará de existir, possibilitando assim a formação de novos vínculos afetivos.

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