O impacto das notícias do cotidiano

Em geral viver em uma sociedade organizada, com papéis, recursos, regras, responsabilidades familiares, civis, profissionais, rotinas, planejamentos realizáveis contribui para a saúde mental dos indivíduos, pois as mudanças ocorrem de forma gradual, com acomodações e sem grandes abalos, sendo absorvidas gradualmente.

Essa sociedade parece distante de nossa contemporaneidade fluida, na qual as mudanças, as quebras de paradigmas são constantes e rápidas, difíceis de acompanhar.

Em nosso cotidiano estamos expostos a inúmeras situações estressantes que mobilizam emoções fortes, que nem sempre temos condições imediatas de compreender e absorver, causando a sensação “de estar sem chão”. Essas situações tem o poder de mobilizar uma vasta gama de defesas “protetivas”, nem sempre adaptativas.

Muitas vezes não prestamos atenção ao impacto das notícias que lemos, ouvimos, assistimos, das cenas que presenciamos, como se o efeito das mesmas em nosso psiquismo fosse inócuo, “pois somos fortes”. Antigamente antes de uma noticia impactante a mídia aconselhava que pessoas sensíveis e crianças saíssem da sala. Sabia advertência. Hoje não temos esse tempo ou essa escolha.

Os fatos invadem nosso cotidiano, nossa vida, podendo nos pegar desprevenidos, em momentos de fragilidade, para lidar com as noticias da violência urbana, da violência doméstica, das catástrofes naturais ou acidentais, da corrupção, entre outras coisas, mobilizando um sentimento de impotência e temor, podendo tornar-se fonte de estresse ou gatilhos para as crises.

E o que são as crises? O que são momentos críticos?

Os momentos críticos em geral estão atrelados a uma situação limite desestabilizadora, na qual não temos recursos internos (cognitivos e/ou emocionais) e externos disponíveis para lidar com a situação, que parece inusitada. Não são apenas os fatos reais, mas o impacto subjetivo que causam, que podem ter um caráter disruptivo, imediato ou duradouro em nosso modo de vida, mobilizando identificações, temores, sentimentos contraditórios, ansiedade…

Em geral pensamos que ligamos o piloto automático e “vamos levando”, sem associar isso a possíveis estados de insônia, fobias, inquietação, cansaço, irritabilidade, desesperança, mal-estar físico, entre outras coisas.

Reconhecer esses impactos, as reações afetivas mobilizadas pode impulsionar a busca de nosso protagonismo, nossa inserção nesse complexo mundo no qual podemos fazer a diferença, da nossa forma se não nos colocarmos no papel de vítima.

Rita Romaro

SP 04/06/19

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