Filhos e uso da internet

Dra. Rita Romaro

Na era digital, com tantas mudanças ocorrendo em um piscar de olhos, muitos questionamentos permeiam nosso dia-a-dia, principalmente no que tange a educação de crianças e adolescentes. A pressão da mídia, da sociedade, dos próprios filhos colocam em cheque convicções, ideologias, percepções, regras de convivência.

Um ponto que é sensível a conflitos é o uso da tecnologia (smarthfones, tablets, vídeo-game, notes, internet…) – a partir de qual idade? É necessário delimitar um tempo de uso? Tanto o uso quanto o não uso podem trazer prejuízos para o desenvolvimento e a socialização? Estou sendo careta?…..

A tecnologia, a internet não é o problema, mas sim o uso que se faz dela. É um importante instrumento de estimulação desde as etapas iniciais do desenvolvimento, assim como o são o contato físico, o relacionamento com adultos e outras crianças, o convívio familiar, as atividades físicas, a exploração do mundo com todos os órgãos dos sentidos e com todos os instrumentos disponíveis além dos tecnológicos. Os aparelhos eletrônicos não podem ser usados como babás, critica que tanto se fez ao uso da TV em décadas passadas.

De uma forma ampla estamos tratando da colocação de limites, necessários em todas as etapas e esferas da vida humana, cabendo aos pais e/ou responsáveis ser coerente com seu estabelecimento e cumprimento. Estamos falando em regras de convivência,  regras familiares, papéis, normas sociais.

Vamos nos ater na decisão de dar ou não um smarthfone para uma criança ou adolescente – qual a real necessidade da criança em seu dia-a-dia?  Para que usará o aparelho? Haverá limite de horário, em quais lugares poderá portá-lo? São questões que precisam ser discutidas e delimitadas antes da compra do aparelho, que exigirá certa parcela de maturidade para seu uso. Nesse sentido tornasse difícil estabelecer uma idade padrão, pois cada família tem sua dinâmica e necessidade, mas vários especialistas sugerem a idade em redor dos 12 anos, quando o adolescente tem uma possibilidade maior de discriminação e já começa a realizar algumas atividades externas sem a presença dos pais.

Cabe lembrar que atualmente um celular dá acesso a redes sociais, internet… o que em geral foge do controle dos pais.

 Um uso indiscriminado dos meios eletrônicos pode interferir no sono (alteração de horários, insônia), na alimentação, no desempenho acadêmico (principalmente nas tarefas domiciliares), nas relações familiares e sociais, quando o mundo virtual adquirir mais relevância que o mundo real.

Nota-se naqueles que fazem um uso excessivo uma tendência ao isolamento (cada qual em seu aparelho, com pouco traquejo nas relações face-a-face, nas relações mais intimas), ao sedentarismo (diminuição da prática de esportes, das brincadeiras em grupo), à obesidade. No mundo virtual tudo é rápido, urgente, aumentando a dificuldade de esperar, de lidar com a frustração, de manter um foco, persistir, o que pode interferir na produção acadêmica, nas relações.

O uso por muitas horas diárias também pode estar associada a reações depressivas, ansiosas, ao déficit de atenção, além de poder levar a um quadro de dependência, pela liberação da dopamina, com possíveis reações de abstinência (ataques de raiva, agressividade…) quando o uso é cerceado. Na UNIFESP existe um serviço psicológico para tratar os dependentes da internet e o Código Internacional das Doenças (CID 11) estuda a implantação do critério diagnóstico de Transtorno por Jogos Eletrônicos.

O estabelecimento das regras de tempo de uso da internet é um papel dos pais e que deve ser controlado pelos mesmos, tanto em relação aos filhos quanto ao uso que eles mesmos fazem…

 

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