Crises acidentais

A todo o momento podemos estar sujeitos a situações provindas do meio externo de forma abrupta, sem que possamos, por vezes, detectar algum sinal de uma possível ocorrência. Assim ocorre com parte dos assaltos, roubos, acidentes automobilísticos, acidentes aéreos, incêndios, catástrofes ambientais entre outros.

Em geral, nas catástrofes ambientais (furacões, tornados, tsunamis, enchentes, erupções vulcânicas), os agentes governamentais podem avisar com antecedência e evacuar a área, outras vezes mesmo com a previsão, não existe recursos materiais ou disponibilidade de tempo para que as pessoas sejam avisadas e possam se proteger.

As catástrofes ambientais assolam uma comunidade e seu potencial traumático está diretamente associado com a proporção dos estragos, com o numero de vítimas, com o potencial da comunidade para a reconstrução. Em geral atitudes solidárias na dor, no desespero, na busca de ajuda, nas tentativas de reconstrução são estimuladas, sendo que talvez sirva de algum consolo sentir-se pertencente a um grupo.

Em outros tipos de catástrofes como as aéreas, automobilísticas, roubos, assaltos etc., a pessoa se vê sozinha, por vezes distante de seus grupos de referência, sendo sua tragédia vivenciada de forma isolada e única.

Nesses momentos críticos o individuo depara-se com uma realidade inesperada e por vezes inexorável (como se a realidade lhe desse um soco), que lhe exige recursos internos imediatos para lidar e se possível sair da situação, com o menor dano possível, quando não, precisa ainda administrar a angustia e as necessidades de outros envolvidos. Por vezes ocorre uma “certa anestesia”, amortecimento e utilização maciça de recursos racionais para tomar as providências imediatas, sendo comum a pessoa só poder entrar em contato com seus sentimentos (medo, angustia, desespero…) em um momento posterior.

Quando a pessoa possui uma estruturação de personalidade que lhe permite reunir recursos adaptativos para lidar com o momento crítico e posteriormente integrar seus sentimentos, possivelmente sairá da situação mais fortalecida e amadurecida, apesar da dor. Quando não existem forças de onde tirar, pode-se estar diante da possibilidade da utilização de recursos egóicos menos adaptativos, que, se perdurarem no tempo poderão desencadear transtornos psíquicos, visto a pessoa ficar presa à situação traumática, sem possibilidade de elaboração, de ressignificação do ocorrido.

Nesses momentos críticos os grupos de apoio como familiares, grupos religiosos, agentes de saúde, vizinhos, amigos… são importantes para restaurar o sentimento de pertença, sendo necessário ter alguém para se contar o evento traumático inúmeras vezes, de preferência sem ouvir o clássico “isso passa, você ainda rirá disso”, mas contar para alguém que partilhe sua dor, sem se desesperar, que até chore junto, mas que permaneça lá, como um bom ouvinte.

Com o tempo as cores fortes e angustiantes do relato vão se tornando mais leves e a necessidade de contar e recontar vai diminuindo, podendo haver a abertura para novos interesses, novos fatos – o que é um indício que a situação está sendo integrada á historia de vida, para que a mesma siga seu curso. Esse processo é similar ao que ocorre com a criança quando lhe contamos uma estória com a qual ela se identifica, ela ouve atentamente e nos pede que repitamos, tim-por-tim, inúmeras vezes, até que um belo dia pede uma estória nova.

Quando a situação não pode ser assimilada, o Transtorno de Estresse Agudo pode desenvolver-se.

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