As montanhas se separam (Shan He Gu Ren) – considerações sobre a separação conjugal

As montanhas  se separam (Shan He Gu Ren)

Filme dirigido por Jia Zhang-ke, produzido por China, França e Japão, 2015.

Esse drama é dividido em 3 épocas (1999, 2014 e 2025), abordando três momentos de transformação da sociedade chinesa, mas sobretudo o caráter irrevogável de algumas escolhas que realizamos na vida, no filme expresso  pelos personagens Tao, Zhang e Liang. A história possibilita a reflexão sobre os momentos que cercam nossas escolhas – idade, nível de maturidade, equilíbrio emocional, compreensão de nossos desejos, necessidades, caprichos, ambições, afetos, amplitude de nosso discernimento, da capacidade de lidar com a ansiedade e com a frustração.

Cada escolha implica em caminhos que se abrem e em outros tantos que se fecham, trazendo consequências, perdas e ganhos. Quando essa escolha recai sobre o casamento, as relações são complexas, implicando no aflorar de desejos, necessidades, expectativas nem sempre conscientes, em valores, em capacidade de estabelecer relações profundas de afeto e de companheirismo – que marcam a vida dos envolvidos.

Os filhos que nascem dessa união trarão as marcas das trocas afetivas desses pais, entre eles, e com os filhos. No presente filme o casal se separa, e Tao considera melhor o filho, ainda muito pequeno, viver com o pai em outra cidade, devido à condição financeira desse, sem levar em conta as necessidades afetivas e desejos da criança. Apesar de sofrer, prefere novamente o conforto financeiro a satisfação afetiva. Quando o filho tem sete anos, ele e o pai se mudam para a Austrália e ele não mais reencontra a mãe.

Zhang realiza seu sonho de ter armas, ser empresário bem sucedido, mas afunda-se em suas insatisfações e dificuldades marcadas de relacionamento com o filho adolescente – cada qual com sua “lingua”, seu mundo de significados, sua leitura do mundo.

O filho, como produto do desejo do pai, alfabetizado em inglês, esquece a língua materna, afasta-se de sua própria identidade, sente-se perdido em busca de si mesmo, de suas origens, da impossibilidade de se conectar (relacionar). Ele traz a chave da casa materna, escondida, mas sempre presente, a qual deseja e teme reencontrar….

Os personagens trazem a marca da solidão, do isolamento, da dificuldade de comunicação e conexão, tão presentes no mundo atual. Cada qual perdido em seus desejos e carências.

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