Vaidade infantil

A vaidade tem exercido um pronunciado papel nos apelos publicitários para homens mulheres e crianças, como uma forma de diferenciação, valoração, status, competição, sedução…

O significado da palavra vaidade pauta-se no desejo de atrair a admiração, que em um nível mais acentuado pode associar-se à soberba, ao orgulho, abrangendo vários aspectos da vida de uma pessoa.

De acordo com Fernando Pessoa – o orgulho é a consciência do próprio mérito, enquanto a vaidade é a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso próprio mérito para os outros.

Etimologicamente vaidade vem do latim vanitcs, referindo-se à qualidade do que é vão, inútil, sem solidez nem duração, instável; liga-se também à futilidade,à ostentação, ao desejo imoderado e infundado de merecer a admiração de outros.

Isso nos remete a um paradoxo: até que ponto admitir uma capacidade, uma habilidade é vaidade? Até que ponto gostar da própria aparência, ou reconhecer algo que se sabe fazer (um prato, uma atividade, por exemplo) é vaidade?

A vaidade permeia nosso dia a dia, nossas relações, auxilia no fortalecimento da autoestima e a reflete, na forma de autoconfiança, determinação, auto valoração, consciência dos próprios limites, reconhecimento de suas qualidades e capacidades.

Nossa questão – qual é o tênue limite entre essa expressão saudável e necessária da vaidade enquanto expressão realística da autoestima e a vaidade enquanto algo prejudicial no sentido de só poder reconhecer-se por meio dos olhos, da admiração do outro, nublando o sentido de identidade? Obscurecendo questões como: O que eu quero? Quem eu sou?

A vaidade atinge esse lado menos saudável quando a pessoa sente-se refém do modismo, da aprovação ou admiração do outro, sem questionamentos do tipo: Eu quero? Eu preciso? De fato gosto disso? Por que preciso? Tem relação comigo? Perguntas simples, mas fundamentais.

A vaidade também pode associar-se a gastos compulsivos, baixa autoestima, comportamentos obsessivos, narcisismo, competição, insegurança, transtornos alimentares, entre outros comportamentos e sentimentos.

E a vaidade infantil?

Considerando-se que a criança é dependente e influenciável pela família, a vaidade infantil apresenta-se intimamente relacionada ao desejo, à vaidade e ao desejo de aprovação dos pais, podendo dificultar que em seu desenvolvimento a criança vá descobrindo seus gostos, necessidades, individualidade. Pais consumistas podem promover o consumismo nos filhos, bloqueando o questionamento.

Assustadoramente percebe-se o quanto as crianças se exibem, competem e querem cada vez mais cedo vestir-se como pequenos adultos, exibindo e preocupando com marcas, peso, colorindo os cabelos, fazendo escova, usando maquiagem, etc. Para que?
Na infância a aparência não pode ser associada à competição, à escravidão à beleza, a um tipo de vaidade que até impede a criança de brincar (para não se desarrumar), de ser criança. Uma criança higienizada é uma criança de banho tomado, unha cortada, dente escovado, mãos, cabelos e roupas limpas, que pode portar-se de acordo com sua idade, com preocupações pertinentes a sua fase de desenvolvimento. Uma criança deve ir a uma festa para brincar, com roupas apropriadas, não para exibir-se e temer se desarrumar.

Cabe aos pais discutir com a criança para que esta precisa de algo, avaliando o que já tem e valorizando seus atributos internos, seu mundo de relações, mais do que sua aparência.

Algumas dicas para se detectar quando a vaidade esta expressando e gerando dificuldades:

  • necessidade ou preocupação obsessiva com algo (se não tiver tal roupa não irei a tal evento;
  • todos repararão; meus amigos não gostarão mais de mim ou me ridicularizarão…);
  • acirrada competição com roupas, brinquedos, peso, funcionando como instrumento de poder e não como algo prazeroso com o qual se satisfaça;
  • quem precisa de muito é porque não se satisfaz com nada, expressando o vazio que a vaidade tenta preencher – o que de fato esta faltando (de afeto) na vida dessa criança?;
  • – nada é suficiente, sempre em busca de algo perfeito.

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