Quando o amor torna-se um problema

AMOR OU AMOR DOENTIO?

O amor é um sentimento estruturante, até mesmo mítico, ligado à pulsão de vida e contrapondo-se à pulsão de morte, o que nos remete a EROS, o deus do amor, que busca unir partes em um todo.

O amor é esse sentimento tão almejado, mas o que é o amor? Quais as fronteiras entre a paixão e o amor patológico?

Essas são questões que vez por outra nos ocorrem, bem como a indagação: por que alguém faz sofrer quem ama e quem o ama? Até onde esse amor pode levar?

Nossa mente é complexa, nossos sentimentos nem sempre podem ser totalmente conhecidos, a linha que separa a sanidade da loucura é tênue e por vezes enganosa, os recônditos da alma são muitos.

O ser humano carrega em si a historia de suas relações afetivas desde o momento em que nasce, das figuras que povoaram sua vida, da forma como foi aprendendo a lidar com seus medos, sentimentos, relações, frustrações, perdas, ganhos, enfim com tudo o que constitui a vida.

Para alguns essa tarefa é penosa, sendo que apresentam uma maior dificuldade em lidar com as frustrações, com as separações (sentidas como abandono), com a raiva, com a possibilidade de amar. Nesse grupo podemos encontrar as “pessoas que amam demais”, “os amores compulsivos”, o “amor patológico”.

O amor patológico pode ser considerado uma doença, por ocorrer uma perda de controle na manifestação desse amor, que tende a apresentar-se de uma forma impulsiva, destrutiva, sem se importar com o bem-estar do parceiro e de si, visto o controle poder tornar-se, com o tempo, sufocante.

Em geral essas pessoas mostram-se mais dependentes, com tendência a estabelecer relações simbióticas, confusas, tumultuadas, cheias de altos e baixos, permeadas pelo temor de abandono. Frente a qualquer negativa do parceiro mostram-se desesperadas, agressivas, sendo frequentes as ameaças de suicídio e de morte. Também não são raras as agressões físicas e psicológicas contra o parceiro, como persegui-lo, querer controlar sua vida, tentar afastá-lo de todo e qualquer relacionamento, em uma atitude possessiva.

O amor patológico também pode ser considerado um codependência, no sentido da pessoa colocar sua vida em segundo plano para “cuidar”, “controlar” o parceiro.

Cabe lembrar que tudo o que é excessivo, parece desviar-se do normal, alguns indícios: controle excessivo do parceiro – checar as chamadas do celular; ligar de pouco em pouco “estilo chiclete”; querer tomar conta da vida, do tempo, das amizades do parceiro; muita insegurança em relação ao amor do outro, precisando de constantes e intensos reasseguramentos (provas de amor).

Outro dado importante: para dar conta de todo esse controle, a pessoa acaba se esquecendo um pouco, ou muito, da própria vida e vive em função do parceiro, sendo que quando a relação entra em crise ou termina, sente-se vazia, com vontade de morrer e/ou matar, como forma de readquiri o controle sobre a situação e sobre o outro.

Esse amor doentio em geral pode associar-se a várias patologias, como o transtorno obsessivo compulsivo, o transtorno de ansiedade, a depressão, o transtorno do impulso, o transtorno de personalidade borderline, quadros de abuso de substancias (álcool, drogas) e nos quadros mais graves à esquizofrenia (delírios de ciúmes). O amor doentio é consequência, não causa de uma patologia.

A psicoterapia pode auxiliar a trabalhar com questões ligadas à ansiedade, à insegurança, ao amor ansioso, à dificuldade de perceber o parceiro como uma pessoa separada de si, de lidar com as perdas, de conscientizar-se da identificação do vínculo doentio com o parceiro, auxiliando também na retomada de outras atividades, entre outras coisas…

O MADA, enquanto um grupo de apoio exerce um papel fundamental, visto ter suas regras e propiciar a troca de experiências, bem como a valorização dos avanços e a compreensão das “recaídas” por todas vivenciam a mesma dor e desespero que é exacerbada no amor patológico. Os passos e as tradições funcionam como elementos norteadores, como um farol na neblina desses confusos sentimentos.

Embora os grupos do MADA não possam ser considerados enquanto psicoterapêuticos, enquanto um processo de psicoterapia de grupo, eles exercem uma importante função terapêutica na conscientização da problemática e no controle dos impulsos.

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